A cidade amanhece cinzenta. Não o cinzento que traz chuva, mas antes o cinzento das nuvens traquinas que descem à Terra para espreitar o que se faz cá por baixo. Dentro de casa, no quentinho, a música sai das colunas, colorindo o dia. Não tarda sairemos para esse cinzento, os casacos apertados a esconder-nos o sorriso - mas ele está lá, não nos encontrássemos nós num "Feliz para Sempre", tão comum das cidades de conto de fadas. E de facto, não se pode dar outro nome a Wrocław, a cidade das pontes e dos gnomos. Não, não estou louca. Numa janela, num poste de iluminação, e em outros cantos e recantos, tanto na cidade nova, onde os prédios altos, de cores escuras se elevam, como na cidade velha, com as típicas casinhas coloridas, os muros de tijolo vermelho, a catedral, os gnomos espreitam, sorrindo, matreiros.
Wrocław. Gostei mais do que a própria Cracóvia, a Cracóvia imponente, majestosa, altiva Kraków, de que aqui não falei ainda por falta de tempo. Sendo das poucas cidades que não foi totalmente bombardeada e destruída durante a guerra, preserva todas as construções desse tempo, tornando-a, como diz um amigo meu, "bonita demais". os monumentos, os pontos históricos, acotovelam-se rua atrás de rua, perdendo-se o conforto aconchegante que se sente quando se está em casa. Kraków é bonita para quem viaja, mas demasiado turístico para se viver. Do outro lado, temos Wrocław, que em tudo contrasta com Kraków, já que, mais do que olhar e fotografar aquilo que se eleva diante de nós, temos de observar realmente, estar eternamente atentos aos pormenores. E não há maior alegria que descobrir de repente um gnomo adormecido no seu posto, que logo ganha vida e desata a correr pela nossa imaginação, lembrando-nos do tempo em que erámos pequeninos, que o mundo era cor-de-rosa e comíamos nuvens de sonhos em pauzinhos, em feiras populares onde a música tocava continuamente até ao entardecer.
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