Em Espanha, por causa da greve, não consegui sair do aeroporto e ir visitar a cidade. Por sorte, conheci dois italianos que seguiam no mesmo voo que eu o dia seguinte, e “acampamos” juntos – de dia, num jardinzito onde era “Prohibido pisar le cispéd”; de noite, a um canto do aeroporto com tomada, para vermos um filme antes de irmos dormir. Dormir no aeroporto não é uma tarefa nada fácil. O chão é frio e desconfortável, e não tínhamos qualquer manta para nos cobrirmos. As luzes ficam ligadas toda a noite, mesmo por cima de nós, e há sempre uma musiquinha de fundo, tipo música de elevador. Depois há os barulhos esporádicos, como a máquina de limpar o chão, o anúncio de que “Es Prohibido fumar en Aeroporto”, ou até o simples restolhar da roupa de alguém a passar perto. Seja como for, uns mais cedo, outros mais tarde, acabamos por adormecer, deleite que não durou muito tempo, pois às quatro da manhã tivemos de acordar para embarcar para Itália.
À chegada a Itália separei-me dos meus amigos, que seguiram para Bologna, onde moram, enquanto que eu segui para Bergamo, uma cidade perto de Milão, e onde se situa o aeroporto.Como não gostar de qualquer cidade da bellíssima Itália? Dos monumentos que surgem quando menos se espera, camuflados na selva citadina, da pizza vendida ao kilo, dos alegres “Ciao bella” que nos lançam sempre que falam connosco?
Bergamo destaca-se por estar dividida entre “la alta cittá” e “la cittá bassa”. A primeira, fica na montanha. É mais antiga, mais calma, mais rústica. As ruínhas pequeninas, cheias de lojinhas, na zona mais turística, e em cima, perto do castelo, as casas, enormes, com grandes jardins muito arranjadinhos. Se tivesse de caracterizá-la com uma palavra, escolhia “pedra”, uma vez que em todas as ruínhas o chão é revestido de pedrinhas pequeninas, redondas, enquanto que os edifícios foram construídos em pedra dourada, que faz, em muito, lembrar a pedra usada nos castelos antigos.
Mas o que é mais lindo na alta cittá é a vista para baixo, para o resto da cidade. Quase parece uma cidadezinha de brincar, quando não vemos a movimentação normal numa cidade europeia, os carros, as pessoas, o mundo, apressado.
Só que ao fim do dia tinha mais um voo para apanhar – trocar Itália pela Polónia, e começar a verdadeira aventura.