segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

A senhora das limpezas

Hoje recebi esta mensagem: 
czeeeść:)
I forgot to tell you, the cleaning lady asked about you:P:P (in our faculty). I don`t know why:P and I asked her if to hand you down something but she said she tells you by herself:P I said you speak english, she answered that it doesn`t matter and she will manage...:P
regards
dobranoc:)

Não sei como aconteceu, só que de repente esta senhora começou a vir cumprimentar-me com um abraço e chamar-me de kochanie (amor).  Não fala uma palavra de outra língua que não seja polaco. Eu bem tento responder-lhe, mas também não sei muito. Parece não ter importância. 

Às vezes as pessoas só precisam de alguém que se deixe abraçar.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

skatar na Polónia

É incrível como sempre que temos alguma coisa nos queixamos e queremos sempre mais, e nem nos apercebemos que por vezes já temos tanto. Falo de skate, como é óbvio. Já há muito tempo que os skaters do Porto reivindicam um skatepark coberto, para se andar nos dias de chuva, e nem sequer reparam que mesmo com chuva lá vão andando o ano todo. Não quero com isto dizer que o skatepark não deve ser construído, e que se deva parar de lutar por este objectivo, não. Bem pelo contrário, quanto mais for possível conquistar, melhor! Quero tão somente dizer que neste momento dava tudo para ter as condições de skate que há no Porto, já que skatar neste país durante o inverno parece ser mais difícil que eleger o papa:

Ponto nr. 1 - A neve. É uma coisa branca que cai do céu e fica no chão, cobrindo toda a cidade com camadas de carpete que tornam impossível qualquer tentativa de skatar em spots descobertos. 

Ponto nr. 2 - O frio. Se por acaso encontrarem um spot tapado, onde a neve nao entrou, o mais provavel é que estejam quase 20 graus negativos e que seja difícil articular os membros, ou até respirar. O que não o tornaria impossível, a não ser que...

Ponto nr. 3 - Os seguranças. Quase todos os spots cobertos exigem a presença destes senhores, que muito gostam de nos perseguir e expulsar, como se de criminosos se tratasse (se calhar estão a treinar)

Ponto nr. 4 - A areia. Um material que é posto sobre a neve para esta não congelar, e que, quando esta derrete por completo e se torna possível skatar nos spots ao ar livre, se mantém, fazendo os pés escorregar na lixa, e as rodas parar de andar de repente. 

Ponto nr 5. - O dinheiro. Já que na nossa cidade não há skateparks cobertos, toca a procurar outras cidades onde haja. Claro que para isso é preciso pagar a viagem, o skatepark, a comida, e todos os outros custos adjacentes. 

A única vez que recorri a este último método foi em Varsóvia, onde encontrei um skatepark dentro de um shopping! Uma iniciativa da Kamuflage Skateshop, que criou o espacinho para os dias de inverno. Uns inclines, uma piramide, uns quarters, escadas, rails e boxes - o skatepark parece estar bastante completo, apesar de ser demasiado pequeno para a quantidade de pessoas que por lá pára, e faltar um espacinho livre para treinar os truques técnicos sem atrapalhar os outros. E lá está, de novo a queixa! Queixem-se menos, aproveitem mais.

prioridades

O povo português tem claramente de definir prioridades. Que importam as três crianças em casa a morrer de fome, uma das quais numa incubadora por ter nascido prematuramente, e uma quarta a caminho; o pai cego que não consegue arranjar emprego para sustentar a família, e a mãe que nem português sabe falar, que espera com a saia suja e os pés descalços, sentada no passeio cinzento, mas que tem um cartaz escrito a computador, com a ajuda do google, impresso a cores no melhor papel que vendiam na loja das fotocopias, colado a uma cartolina cor-de-rosa fluorescente? O que na verdade toda a gente quer, meus senhores, é cerveja, piwo, beer.

Mas esta coisa dos mendigos saberem inglês é uma coisa que me intriga desde o primeiro dia. Não foram poucas as vezes que fui abordada por gente a pedir dinheiro, mas quando lhes respondo com a minha frase preferida "nie mowię po polsku", "não falo polaco", eles trocam habilidosamente para a língua internacional. Língua essa, que, afinal de contas, não é assim tão conhecida como isso. 

Tendo em conta que vim para um país desconhecido, cuja língua não domino e só há poucos meses comecei a aprender, o inglês afigurava-se-me a minha bóia salva-vidas, a única forma de me fazer entender neste mundo. E isso estaria tudo muito bem se as prioridades não estivessem trocadas. São precisos cerca de sete anos para acabar um curso de medicina? Mais uma vez digo que estudar não é tudo, e estando numa profissão em que lidam com pessoas, deveriam aprender a, pelo menos, falar com eles. Pois é, é uma vergonha ter de ir às urgências do hospital e ainda ter de ligar a uma amiga polaca para que venha fazer a tradução. 

O mendigo, agora está a rir. Sabe falar inglês. Tão bem, que já tem uma cerveja na mão, outra no estômago.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Warszawa - Varsóvia

É a única cidade polaca que foi completamente devastada na Segunda Guerra. Reconstruida a partir do zero, houve o cuidado de preservar (como nas restantes cidades polacas) o aspecto que a cidade tinha anteriormente. Isto não impediu o crescimento normal da cidade, o que torna a capital polaca numa multiplicidade de rostos. Ora caminhamos pelos comuns bairros polacos, com prédios de estatura média, cinzentos, todos iguais, ao estilo comunista, como por entre arranha-céus em vidro espelhado, cujo fim se confunde por entre as nuvens. Ora passeamos sozinhos, por sítios calmos, onde quase não se avista ninguém, como estamos num centro onde borbulham as pessoas, os sons, os cheiros, onde carros, metros e trams se cruzam. 

Foi isto que me atraiu principalmente em Varsóvia. A panóplia de luzes que inundam o centro quando cai a noite, as vistas panorâmicas sobre o rio, e lá em cima, no topo do Palace Kultury para o resto da cidade, que corre, sem nos notar, tão pequenina e tão grande ao mesmo tempo. E  é estranho imaginar como mudou a minha sensação inicial, quando saí daquela estação para uma cidade cinzenta e triste, como me senti desiludida com a capital, e como, de repente, se tornou um dos meus lugares favoritos da Polónia. 

Como fim-de-semana, foi muito bem escolhido para viajar. Saí à rua sem gorro, sem luvas, e pudemos caminhar durante horas sem sentir a necessidade de nos enfiarmos nalgum lugar quente. E quase soube a princípio de primavera  quando caminhei por um passei três vezes mais largo devido à falta da neve. Será?

domingo, 2 de janeiro de 2011

Ano Novo

Tem dias em que me dá para ser nostálgica. 
Quando os meus amigos me contam o que fizeram, e eu sei que não estive lá com eles, que quando voltar vão haver imensas memórias que não partilhamos. Quando vejo as fotografias e vejo que as roupas são diferentes, que um deixou crescer o cabelo, outro a barba, quando as nossas conversas começam por "nem sabes o que perdeste". Quando as novas coisas que eles fazem são as velhas que fazíamos, e as recordações voltam, e só dá vontade de correr de novo para os Aliados, subir a rua dos Clérigos e sentar junto à fonte dos Leões, com uma garrafa de Dom Simon do Pingo Doce aos pés. Tenho saudades das loucuras dos punks, da familiaridade dos hippies, das conversas intelectuais sobre o sentido da vida. Tenho saudades do skate, dos croissants quentinhos a cinquenta cêntimos, de ir acampar durante uma semana para casas de pais desaparecidos algures no mundo. 

Faz algum tempo que me tenho dedicado a outras escritas...as académicas e as pessoais. Podia vir aqui falar sobre o Natal na Polónia, sobre os doze pratos de comida que eles têm ao jantar, e no dia extra, o 26, em que ninguém trabalha. Podia falar sobre o ano que agora começa, e podia dizer quantas tradições  experimentei a noite passada com turcos, alemães e croatas. Mas o meu estado de Polonização tem muita coisa que nunca vai ser (d)escrita, e se vou começar um ano na Polónia, que seja relembrando o que está para trás, e que está presente, ao mesmo tempo, nesta mistura de ideias que é o meu mundo.