O povo português tem claramente de definir prioridades. Que importam as três crianças em casa a morrer de fome, uma das quais numa incubadora por ter nascido prematuramente, e uma quarta a caminho; o pai cego que não consegue arranjar emprego para sustentar a família, e a mãe que nem português sabe falar, que espera com a saia suja e os pés descalços, sentada no passeio cinzento, mas que tem um cartaz escrito a computador, com a ajuda do google, impresso a cores no melhor papel que vendiam na loja das fotocopias, colado a uma cartolina cor-de-rosa fluorescente? O que na verdade toda a gente quer, meus senhores, é cerveja, piwo, beer.
Mas esta coisa dos mendigos saberem inglês é uma coisa que me intriga desde o primeiro dia. Não foram poucas as vezes que fui abordada por gente a pedir dinheiro, mas quando lhes respondo com a minha frase preferida "nie mowię po polsku", "não falo polaco", eles trocam habilidosamente para a língua internacional. Língua essa, que, afinal de contas, não é assim tão conhecida como isso.
Tendo em conta que vim para um país desconhecido, cuja língua não domino e só há poucos meses comecei a aprender, o inglês afigurava-se-me a minha bóia salva-vidas, a única forma de me fazer entender neste mundo. E isso estaria tudo muito bem se as prioridades não estivessem trocadas. São precisos cerca de sete anos para acabar um curso de medicina? Mais uma vez digo que estudar não é tudo, e estando numa profissão em que lidam com pessoas, deveriam aprender a, pelo menos, falar com eles. Pois é, é uma vergonha ter de ir às urgências do hospital e ainda ter de ligar a uma amiga polaca para que venha fazer a tradução.
O mendigo, agora está a rir. Sabe falar inglês. Tão bem, que já tem uma cerveja na mão, outra no estômago.
No outro dia estavam dois mendigos na rua do Carmo, na Baixa com cartazes que diziam o seguinte:
ResponderEliminar-Para o alcool
-Para a droga
-Para tabaco
Pelo menos somos honestos.