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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

A senhora das limpezas

Hoje recebi esta mensagem: 
czeeeść:)
I forgot to tell you, the cleaning lady asked about you:P:P (in our faculty). I don`t know why:P and I asked her if to hand you down something but she said she tells you by herself:P I said you speak english, she answered that it doesn`t matter and she will manage...:P
regards
dobranoc:)

Não sei como aconteceu, só que de repente esta senhora começou a vir cumprimentar-me com um abraço e chamar-me de kochanie (amor).  Não fala uma palavra de outra língua que não seja polaco. Eu bem tento responder-lhe, mas também não sei muito. Parece não ter importância. 

Às vezes as pessoas só precisam de alguém que se deixe abraçar.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

prioridades

O povo português tem claramente de definir prioridades. Que importam as três crianças em casa a morrer de fome, uma das quais numa incubadora por ter nascido prematuramente, e uma quarta a caminho; o pai cego que não consegue arranjar emprego para sustentar a família, e a mãe que nem português sabe falar, que espera com a saia suja e os pés descalços, sentada no passeio cinzento, mas que tem um cartaz escrito a computador, com a ajuda do google, impresso a cores no melhor papel que vendiam na loja das fotocopias, colado a uma cartolina cor-de-rosa fluorescente? O que na verdade toda a gente quer, meus senhores, é cerveja, piwo, beer.

Mas esta coisa dos mendigos saberem inglês é uma coisa que me intriga desde o primeiro dia. Não foram poucas as vezes que fui abordada por gente a pedir dinheiro, mas quando lhes respondo com a minha frase preferida "nie mowię po polsku", "não falo polaco", eles trocam habilidosamente para a língua internacional. Língua essa, que, afinal de contas, não é assim tão conhecida como isso. 

Tendo em conta que vim para um país desconhecido, cuja língua não domino e só há poucos meses comecei a aprender, o inglês afigurava-se-me a minha bóia salva-vidas, a única forma de me fazer entender neste mundo. E isso estaria tudo muito bem se as prioridades não estivessem trocadas. São precisos cerca de sete anos para acabar um curso de medicina? Mais uma vez digo que estudar não é tudo, e estando numa profissão em que lidam com pessoas, deveriam aprender a, pelo menos, falar com eles. Pois é, é uma vergonha ter de ir às urgências do hospital e ainda ter de ligar a uma amiga polaca para que venha fazer a tradução. 

O mendigo, agora está a rir. Sabe falar inglês. Tão bem, que já tem uma cerveja na mão, outra no estômago.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Mowię trochę po polsku

Sędzia Virginia Phillips z San Diego uznała politykę dyskryminacji gejów i lesbijek w wojsku za sprzeczna z konstytucją.
Foi a primeira frase de uma notícia que consegui ler por inteiro (claro, com a ajuda do meu słownik, ou dicionário). Foi a semana passada, se não me engano, e depois disso tive duas conversas inteiramente em polaco, com a senhora da limpeza da minha faculdade (que agora é minha amiga) e com um ser que me perguntou as horas na paragem do tram. O que é que significa? Significa que já não "nie mowię po polsku", mas "mowię trochę po polsku". E sabe tão bem!

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

"Nie mowiem po polsku"

...é, provavelmente, a frase que mais uso diariamente, para explicar àqueles que me abordam que o polaco ainda não consta no meu quadro linguístico. 

Falar polaco, é, provavelmente, o maior desafio que se apresenta à minha frente nesta viagem, pelo que já lhe devia ter feito referência há muito tempo atrás. Começamos pelas letras, um amontoado de consoantes seguidas que não parecem fazer qualquer sentido, e que no fim acabam por se revelar como uma quantidade abismal de chês e jês diferentes. Depois vêm os sons que nos confundem, como o -ch que se lê -h (não o nosso, que o nosso não se lê, mas o dos ingleses), e as reviravoltas entre o -o e o -ó, que em Portugal o -o lê-se -u, e o -ó lê-se -oh, se é que me faço entender, e na Polónia é ao contrário, o -ó é -u, e o -o é -oh. E se isto parece suficiente, acrescente-se as cedilhas em vogais (ą, ę) e os acentos em consoantes (ń, ś, ź) e as letras com adereços novos (ł, ż)

Segue-se a gramática. Para quem estuda alemão ou latim isto não é novidade, mas para mim, que sempre me fiquei pelo francês e o inglês, foi um choque tremendo quando vi que cada palavra tinha mais sete variantes. Casos. Não me perguntem porque é que eles os usam, continuo sem perceber, só sei que dão sentido às frases, que os polacos não têm artigos e é assim que se fazem entender. Isto torna-se numa grande confusão sempre que queremos usar o dicionário, que só tem a palavra no "nominativo", que é como quem diz a forma principal. 

Como se isto não fosse já confuso que baste, decidiram complicar-nos com os dias da semana, que a quinta e sexta-feira deles são czwartek e piątek, que significa, respectivamente, quarto e quinto. Ou seja, a quarta deles é a nossa quinta, a quinta deles a nossa sexta. Bonito. Só dá para descontrair um bocado quando olhamos para o domingo deles, niedziela, que significa, à letra, não fazer nada, ou para o expressão que usam para "andar de barco", pływać na statkiem, nadar estático.