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terça-feira, 12 de outubro de 2010

Dia-a-dia

Desço a rua, passo pelo Biedronka, e salto a cancela amarela para apanhar o tram. É estranho como em tão pouco tempo isto se tornou num hábito tão familiar, numa coisa que sei que vai continuar a acontecer diariamente, e que me faz sorrir. Lembro-me como no primeiro dia pensei que vivia numa zona da cidade que era tão feia, e como é irónico que comece agora a dar-lhe uma nova importância, a dar-lhe um outro valor. O Biedronka, a cancela amarela, o tram. Os dez minutos de viagem aos solavancos, sair quase à porta da faculdade. E que sonho que é a faculdade!

Entro pela primeira vez numa sala de aula polaca, para ter a minha primeira aula, fotografia. Enquanto os alunos vão entrando e ocupando os lugares vazios, olho pelas janelas, que ocupam toda a parede lateral. O sol entra a jorros, queimando-me agradavelmente o rosto. Lá fora, deposita-se na relva, nas árvores, num laguinho verde, ao centro. Suspiro, encantada, lembrando as salas subterrâneas do Anexo onde antes tinha aulas. O professor fecha a persiana - deve ter reparado no meu descontentamento, pois faz uma piada sobre vir de um país latino, e ser por isso que prefiro o sol. Isto traduziu-me a Jaga, isto e a aula toda,  ou a única coisa que eu teria percebido era que ele estava a falar de cores e do photoshop, e a palavra "następny", que significa seguinte, e que eu aprendi ao ir ao super-mercado, por vir escrito nos separadores das compras. 

A aula é só de hora e meia, e tem um intervalo pelo meio. Mesmo assim, custa um bocadinho a passar, depois de quatro meses de férias. É a única que tenho hoje. Vou de volta para o tram, com algumas pessoas que conheci entretanto. Vai ser assim a minha rotina, todos os dias, e, não sei porquê, sabe-me bem. 

 Chego a casa. Tentar perceber polaco, ter de estar sentada, pensar em trabalhos, em horários, em cadeiras que posso ou não posso ter, deu cabo de mim. Adormeço por umas horas, até a Mia chegar. São nove e meia. Os polacos já jantaram há cinco horas atrás, mas para mim, são horas do jantar. Só à terceira tentativa é que saiu bem, mas devo estar com azar, porque acabei por deixar cair tudo no chão, partir o prato e a panela. Amanhã há mais aulas, tenho de me deitar cedo, mas ainda há tempo para ir ao terceiro andar por a conversa em dia com o Hardcore da Tété, ele que me perdoe, mas tinha de gozar.

Resta desejar, em polaco, está claro, dobranoc.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Atentados

Ainda ontem falei sobre como era a vida num dormitório, e eis que a vida num dormitório se torna digna de um filme de acção. Imaginem o que é chegar a casa e encontrar um panorama de ambulâncias, polícia, e bombeiros, uma corda a impedir a passagem, e cerca de uma centena de pessoas sentadas na rua, algumas de pijama e chinelos. A causa? Uma ameaça de bomba. 

Começo a questionar se quem lançou o alarme não terá sido o supermercado ao lado, o Biedronka, ou joaninha, em português, que ficou, de repente, atolhado de pessoas que queriam comprar comida, cervejas, ou simplesmente ficar no quente, já que estava a escurecer. Para quem ficou lá fora durante as três horas que durou a revistar os quartos, a polícia mandou chamar um autocarro, que ficou parado, com o motor ligado, só para não termos frio. 

Foi com muita alegria e quase a correr que todos voltaram para os seus quartos, para jantar e descansar... mas não por muito tempo, pois esta manhã voltou a soar o alarme: "Uwaga studenci ... ewacuatji.." - e isto foi tudo o que percebi, entre as frases em polaco gritadas pelo corredor, e que eram, afinal, um falso alarme,  desta vez, um atentado ao meu sono.

Começo a questionar-me que tipo de país é este onde acontece este tipo de coisas!


quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Vida de Dormitório

Viver num dormitório tem muito que se lhe diga. O meu tem sete andares, cada um com vinte e quatro quartos, com duas pessoas a viver em cada um. Significa que todos os dias se acaba por conhecer alguém nas escadas, ou por conhecer alguém num bar que vive alguns andares acima de nós! O que acaba por ser muito divertido, pois acaba por se arranjar companhia para o caminho para casa, para os jantares, ou para um momentinho de convívio ao fim do dia. 

O que não é divertido é que, do pessoal que aqui trabalha, só um fala inglês, o segurança nocturno. Ou seja, para pedir informações sobre como funcionam as lavandarias, para perguntar se temos correio, ou para pedir as contas do mês, acabamos sempre por demorar horas e não chegar a lado nenhum. Como esta manhã, em que fui acordada pela empregada de limpeza, que entrou de rompante no nosso quarto, com as novas regras (que alguém, finalmente, se lembrou de traduzir para inglês) e uns papeis para assinarmos, para verificar se estava tudo em ordem no nosso quarto. O problema é que nós já tínhamos assinado os tais papeis com outra empregada, mas foi preciso meia hora e uma vizinha polaca para que ela percebesse o que nós queríamos dizer.

Mesmo assim, pensei que fosse mais difícil viver sozinha - ter de fazer refeições todos os dias, lavar a louça, a roupa, arrumar e limpar - mas não é. Talvez porque as refeições são em menos quantidade do que se faz em casa, a louça para lavar é menos, e tem-se companhia de pessoas interessantes, de alguma parte do mundo para nós desconhecida - croácia, turquia, rússia, itália, alemanha, áustria... Às vezes também fazemos refeições comuns, em que cada pessoa cozinha alguma coisa típica do seu país, o que acaba por ser óptimo para abrirmos a mente a novos hábitos alimentares, novas misturas, novos sabores. 

Anyway, sabe bem viver num dormitório.