Mostrar mensagens com a etiqueta viagens. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta viagens. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

skatar na Polónia

É incrível como sempre que temos alguma coisa nos queixamos e queremos sempre mais, e nem nos apercebemos que por vezes já temos tanto. Falo de skate, como é óbvio. Já há muito tempo que os skaters do Porto reivindicam um skatepark coberto, para se andar nos dias de chuva, e nem sequer reparam que mesmo com chuva lá vão andando o ano todo. Não quero com isto dizer que o skatepark não deve ser construído, e que se deva parar de lutar por este objectivo, não. Bem pelo contrário, quanto mais for possível conquistar, melhor! Quero tão somente dizer que neste momento dava tudo para ter as condições de skate que há no Porto, já que skatar neste país durante o inverno parece ser mais difícil que eleger o papa:

Ponto nr. 1 - A neve. É uma coisa branca que cai do céu e fica no chão, cobrindo toda a cidade com camadas de carpete que tornam impossível qualquer tentativa de skatar em spots descobertos. 

Ponto nr. 2 - O frio. Se por acaso encontrarem um spot tapado, onde a neve nao entrou, o mais provavel é que estejam quase 20 graus negativos e que seja difícil articular os membros, ou até respirar. O que não o tornaria impossível, a não ser que...

Ponto nr. 3 - Os seguranças. Quase todos os spots cobertos exigem a presença destes senhores, que muito gostam de nos perseguir e expulsar, como se de criminosos se tratasse (se calhar estão a treinar)

Ponto nr. 4 - A areia. Um material que é posto sobre a neve para esta não congelar, e que, quando esta derrete por completo e se torna possível skatar nos spots ao ar livre, se mantém, fazendo os pés escorregar na lixa, e as rodas parar de andar de repente. 

Ponto nr 5. - O dinheiro. Já que na nossa cidade não há skateparks cobertos, toca a procurar outras cidades onde haja. Claro que para isso é preciso pagar a viagem, o skatepark, a comida, e todos os outros custos adjacentes. 

A única vez que recorri a este último método foi em Varsóvia, onde encontrei um skatepark dentro de um shopping! Uma iniciativa da Kamuflage Skateshop, que criou o espacinho para os dias de inverno. Uns inclines, uma piramide, uns quarters, escadas, rails e boxes - o skatepark parece estar bastante completo, apesar de ser demasiado pequeno para a quantidade de pessoas que por lá pára, e faltar um espacinho livre para treinar os truques técnicos sem atrapalhar os outros. E lá está, de novo a queixa! Queixem-se menos, aproveitem mais.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Warszawa - Varsóvia

É a única cidade polaca que foi completamente devastada na Segunda Guerra. Reconstruida a partir do zero, houve o cuidado de preservar (como nas restantes cidades polacas) o aspecto que a cidade tinha anteriormente. Isto não impediu o crescimento normal da cidade, o que torna a capital polaca numa multiplicidade de rostos. Ora caminhamos pelos comuns bairros polacos, com prédios de estatura média, cinzentos, todos iguais, ao estilo comunista, como por entre arranha-céus em vidro espelhado, cujo fim se confunde por entre as nuvens. Ora passeamos sozinhos, por sítios calmos, onde quase não se avista ninguém, como estamos num centro onde borbulham as pessoas, os sons, os cheiros, onde carros, metros e trams se cruzam. 

Foi isto que me atraiu principalmente em Varsóvia. A panóplia de luzes que inundam o centro quando cai a noite, as vistas panorâmicas sobre o rio, e lá em cima, no topo do Palace Kultury para o resto da cidade, que corre, sem nos notar, tão pequenina e tão grande ao mesmo tempo. E  é estranho imaginar como mudou a minha sensação inicial, quando saí daquela estação para uma cidade cinzenta e triste, como me senti desiludida com a capital, e como, de repente, se tornou um dos meus lugares favoritos da Polónia. 

Como fim-de-semana, foi muito bem escolhido para viajar. Saí à rua sem gorro, sem luvas, e pudemos caminhar durante horas sem sentir a necessidade de nos enfiarmos nalgum lugar quente. E quase soube a princípio de primavera  quando caminhei por um passei três vezes mais largo devido à falta da neve. Será?

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Wrocław

A cidade amanhece cinzenta. Não o cinzento que traz chuva, mas antes o cinzento das nuvens traquinas que descem à Terra para espreitar o que se faz cá por baixo. Dentro de casa, no quentinho, a música sai das colunas, colorindo o dia. Não tarda sairemos para esse cinzento, os casacos apertados a esconder-nos o sorriso - mas ele está lá, não nos encontrássemos nós num "Feliz para Sempre", tão comum das cidades de conto de fadas. E de facto, não se pode dar outro nome a Wrocław, a cidade das pontes e dos gnomos. Não, não estou louca. Numa janela, num poste de iluminação, e em outros cantos e recantos, tanto na cidade nova, onde os prédios altos, de cores escuras se elevam, como na cidade velha, com as típicas casinhas coloridas, os muros de tijolo vermelho, a catedral, os gnomos espreitam, sorrindo, matreiros.

Wrocław. Gostei mais do que a própria Cracóvia, a Cracóvia imponente, majestosa, altiva Kraków, de que aqui não falei ainda por falta de tempo. Sendo das poucas cidades que não foi totalmente bombardeada e destruída durante a guerra, preserva todas as construções desse tempo, tornando-a, como diz um amigo meu, "bonita demais". os monumentos, os pontos históricos, acotovelam-se rua atrás de rua, perdendo-se o conforto aconchegante que se sente quando se está em casa. Kraków é bonita para quem viaja, mas demasiado turístico para se viver. Do outro lado, temos Wrocław, que em tudo contrasta com Kraków, já que, mais do que olhar e fotografar aquilo que se eleva diante de nós, temos de observar realmente, estar eternamente atentos aos pormenores. E não há maior alegria que descobrir de repente um gnomo adormecido no seu posto, que logo ganha vida e desata a correr pela nossa imaginação, lembrando-nos do tempo em que erámos pequeninos, que o mundo era cor-de-rosa e comíamos nuvens de sonhos em pauzinhos, em feiras populares onde a música tocava continuamente até ao entardecer.

domingo, 14 de novembro de 2010

Aushwitz



Several million foreigners in a condition of slavery, overworked, despised, undernourished, badly clothed, and badly cared for, cut off from all contact with their native land. They were not 'typical prisoners', they did not have integrity, on the contrary they were demoralized and depleted....For them escape was difficult and extremely dangerous; besides being demoralized, they had been weakened by hunger and maltreatment; they were and knew they were considered worth less than beasts of burden. Their heads were shaved, their filthy clothes were immediately recognizable, their wooden clogs made a swift and silent step impossible. If they were foreigners, they had neither acquaintances nor viable places of refuge in the surroundings....The particular, but numerically imposing, case of the Jews was the most tragic....In what direction could they flee? To whom could they turn for shelter? They were outside the world, men and women made of air.
Primo Levi

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Łódź

Fim de semana prolongado - sexta-feira, livre; segunda, feriado; terça, tolerância de ponte nas faculdades, um hábito comum na Polónia, para que os alunos tenham tempo para ir a casa. Parece-me uma ideia mais que óptima, umas mini-férias nunca fizeram mal a ninguém. E que melhor maneira para aproveitar o tempo que viajar? 

Vejo-me assim no meio de uma estação apinhada de gente à espera para comprar os bilhetes. O dia 1 de Novembro é o dia de todos os santos, um dia muito importante para os habitantes deste país, que se deslocam assim às suas terras-natal, para saudar os seus falecidos. Coloco-me na fila mais curta, mas mesmo assim estão umas trinta pessoas à minha frente. Falta meia hora para o comboio, e de certa forma sei que não vou conseguir. A confusão é muita. Há pessoas a passar de um lado para o outro,  atrás de mim, à minha frente, a tentar colocar-se nas filas que mais lhes convém. As malas rebolam por cima dos meus pés, contra as minhas pernas, as pessoas empurram, umas mais gentilmente, outras mais à bruta. Faltam quinze minutos, a linha à minha frente não parece ter sequer mexido. Largo tudo e corro para o cais de embarque, o bilhete, compro-o no comboio. 

No cais, mais um mar de gente. "Matem alguém se for preciso, diz a minha parceira de viagem, mas entrem no comboio!". O motivo de tal aviso? Na Polónia os bilhetes têm uma validade de dois dias, pelo que arranjar lugar num fim-de-semana em que toda a gente parece estar a viajar, é uma pequena guerra civil. O comboio aproxima-se, as pessoas apertam-se. Corro para a porta. "Avariada". Corro para a outra. Está muita gente à minha frente, mas consigo entrar. Três lugares vazios. Perfeito. Mas nem todos têm a mesma sorte, e entre as cadeiras, há quem viaje em pé.

Quatro horas e meia de viagem até Łódź. No entanto, o fim-de-semana promete. Viajo com duas raparigas croatas, e juntar-no-emos a  mais um rapaz croata, que nos dará alojamento. Uma portuguesa entre croatas. A ideia não me assusta. Estou mais que habituada a estar entre os turcos, as espanholas, e, claro, entre polacos. Não perceber o que se fala à minha volta já faz parte do meu dia-a-dia, e de resto, fala-se inglês, que já vem tão espontaneamente como o português. 

Łódź foi uma cidade industrial, pelo que não há belos monumentos para serem vistos. Há, essencialmente, fábricas antigas e parques, e uma pequena zona associada ao Holocausto. Está situada em Łódź a última estação de comboio a levar judeus para Aushwitz, assim como o último ghetto judeu. Infelizmente, não cheguei a visitar estes espaços, mas há outras coisas para ver. Na Ulica Piotrkowska, a rua principal, as casas têm uma particularidade interessante - cada andar foi construído num estilo diferente, provavelmente para mostrar a riqueza da cidade. Também abundam, aqui, as estátuas dinâmicas, como eu lhes chamo, e que é como quem fala naquelas estátuas em que é possível interagir com as personagens - de destacar a estátua de um escritor que criticou a cidade e a sua governação, e que é agora detestado pelos habitantes, que pisam o pé da estátua e lhe apertam o nariz sem reservas, como bem se pode ver pela alteração de cor nestas zonas.

Ao centro da estrada, bem entre as faixas destinadas ao trânsito, há uma faixa com os nomes de todos aqueles que contribuíram para a construção rua. Estacionados junto ao passeio, carrinhos empurrados por homens em bicicleta, algo diferente, e, provavelmente, agradável de se experimentar. Algures a meio da Piotrkowska, a escola de cinema de Łódź, em frente da qual o passeio se reveste de estrelas com os nomes de actores e realizadores importantes que ali estudaram. Roman Polanski é um deles, sendo que este tem ainda direito a uma rua sua, não porque o Estado tenha decidido dar-lha, mas tão somente porque ele a decidiu comprar, um dia. 

Nomes inscritos no chão é uma coisa comum em Łódź, portanto. Falo agora do Memorial Park, um parque feito em memória do Holocausto. Desta vez, o protagonismo é dado aos judeus que sobreviveram e que estiveram presentes na abertura do parque, quatrocentos e poucos de número, e a todos aqueles que ajudaram a salvar os judeus, adoptando-os como seus filhos e dando-lhes, assim, identidade ariana, sujeitando-se a morrer juntamente com o resto da família. 

Mas mudemos para coisas mais alegres. Temos a Opera, espaço aproveitado para umas skatadas, devido ao piso lisinho, às escadas e aos curbs que por ali se encontra. Infelizmente os skaters estão a almoçar, sentados à sombra de umas árvores, que hoje até está sol, e a temperatura chega aos quinze graus. Do edifício sai música clássica, e rio, ao pensar na Casa da Música e como é quase irónico  que espaços dedicados a este tipo de musica acabam por se ligar à cultura de rua. Mas, música é arte, e as artes sempre estiveram interligadas.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Indo eu, indo eu, a caminho de Poznan

Em Espanha, por causa da greve, não consegui sair do aeroporto e ir visitar a cidade. Por sorte, conheci dois italianos que seguiam no mesmo voo que eu o dia seguinte, e “acampamos” juntos – de dia, num jardinzito onde era “Prohibido pisar le cispéd”; de noite, a um canto do aeroporto com tomada, para vermos um filme antes de irmos dormir. Dormir no aeroporto não é uma tarefa nada fácil. O chão é frio e desconfortável, e não tínhamos qualquer manta para nos cobrirmos. As luzes ficam ligadas toda a noite, mesmo por cima de nós, e há sempre uma musiquinha de fundo, tipo música de elevador. Depois há os barulhos esporádicos, como a máquina de limpar o chão, o anúncio de que “Es Prohibido fumar en Aeroporto”, ou até o simples restolhar da roupa de alguém a passar perto. Seja como for, uns mais cedo, outros mais tarde, acabamos por adormecer, deleite que não durou muito tempo, pois às quatro da manhã tivemos de acordar para embarcar para Itália.

À chegada a Itália separei-me dos meus amigos, que seguiram para Bologna, onde moram, enquanto que eu segui para Bergamo, uma cidade perto de Milão, e onde se situa o aeroporto.Como não gostar de qualquer cidade da bellíssima Itália? Dos monumentos que surgem quando menos se espera, camuflados na selva citadina, da pizza vendida ao kilo, dos alegres “Ciao bella” que nos lançam sempre que falam connosco?

Bergamo destaca-se por estar dividida entre “la alta cittá” e “la cittá bassa”. A primeira, fica na montanha. É mais antiga, mais calma, mais rústica. As ruínhas pequeninas, cheias de lojinhas, na zona mais turística, e em cima, perto do castelo, as casas, enormes, com grandes jardins muito arranjadinhos. Se tivesse de caracterizá-la com uma palavra, escolhia “pedra”, uma vez que em todas as ruínhas o chão é revestido de pedrinhas pequeninas, redondas, enquanto que os edifícios foram construídos em pedra dourada, que faz, em muito, lembrar a pedra usada nos castelos antigos.

Mas o que é mais lindo na alta cittá é a vista para baixo, para o resto da cidade. Quase parece uma cidadezinha de brincar, quando não vemos a movimentação normal numa cidade europeia, os carros, as pessoas, o mundo, apressado.

Só que ao fim do dia tinha mais um voo para apanhar – trocar Itália pela Polónia, e começar a verdadeira aventura.

Sem-abrigo

Tenho-me sentido uma pequena vagabunda nos últimos dias. Dormir no chão duro. Não ter um banho quente pela manhã. Trazer comigo tudo aquilo que tenho, tudo aquilo com que posso contar nos próximos tempos.

Incrivelmente, não desgosto. Não vou dizer que não é difícil, porque é. Dói-me as costas, o pescoço e o maxilar, da posição em que dormi, tenho calos nas mãos de carregar as malas, passei frio e fome. Mas ao mesmo tempo sinto-me livre! O mundo é meu agora, é a minha casa. Terça-feira estava em Portugal, Quarta em Espanha, Quinta-feira em Itália, e agora na Polónia.  Quem é que se pode gabar disso?

Quem é que se pode gabar de ter dormido no chão do aeroporto, de ter comido tortilhas com as mãos, abertas com as chaves de casa, de ter limpo a boca a papel higiénico, ou as mãos na relva fresca? E ter o prazer de conhecer outros vagabundos, parceiros de viagem, com quem se partilham apenas algumas horas, mas com quem se cria uma ligação que fica, quem sabe, para a vida!

Juro que um dia ponho a mochila às costas e viajo assim mesma, vagabunda, pelo mundo fora.