segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

prioridades

O povo português tem claramente de definir prioridades. Que importam as três crianças em casa a morrer de fome, uma das quais numa incubadora por ter nascido prematuramente, e uma quarta a caminho; o pai cego que não consegue arranjar emprego para sustentar a família, e a mãe que nem português sabe falar, que espera com a saia suja e os pés descalços, sentada no passeio cinzento, mas que tem um cartaz escrito a computador, com a ajuda do google, impresso a cores no melhor papel que vendiam na loja das fotocopias, colado a uma cartolina cor-de-rosa fluorescente? O que na verdade toda a gente quer, meus senhores, é cerveja, piwo, beer.

Mas esta coisa dos mendigos saberem inglês é uma coisa que me intriga desde o primeiro dia. Não foram poucas as vezes que fui abordada por gente a pedir dinheiro, mas quando lhes respondo com a minha frase preferida "nie mowię po polsku", "não falo polaco", eles trocam habilidosamente para a língua internacional. Língua essa, que, afinal de contas, não é assim tão conhecida como isso. 

Tendo em conta que vim para um país desconhecido, cuja língua não domino e só há poucos meses comecei a aprender, o inglês afigurava-se-me a minha bóia salva-vidas, a única forma de me fazer entender neste mundo. E isso estaria tudo muito bem se as prioridades não estivessem trocadas. São precisos cerca de sete anos para acabar um curso de medicina? Mais uma vez digo que estudar não é tudo, e estando numa profissão em que lidam com pessoas, deveriam aprender a, pelo menos, falar com eles. Pois é, é uma vergonha ter de ir às urgências do hospital e ainda ter de ligar a uma amiga polaca para que venha fazer a tradução. 

O mendigo, agora está a rir. Sabe falar inglês. Tão bem, que já tem uma cerveja na mão, outra no estômago.

1 comentário:

  1. No outro dia estavam dois mendigos na rua do Carmo, na Baixa com cartazes que diziam o seguinte:

    -Para o alcool
    -Para a droga
    -Para tabaco

    Pelo menos somos honestos.

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